Pedimos antes de mais desculpas a quem sempre nos acompanhou ao longo de todas as jornadas pelo atraso na actualização do blog, que desta vez não se deve a falta de meios (wi-fi), mas ao facto de termos aproveitado ao máximo para confraternizar com os nossos amigos italianos e a sul africana que acabamos por encontrar na missa do peregrino.
Esta última etapa fizemo-la acompanhados pelos italianos, o que nos fez abrandar o ritmo habitual já que o Gianluca primeiro (baptizado desta forma para os distinguirmos) estava muito fatigado e indisposto, tendo sido percorrida “piano piano” (lento lento).
Partindo do albergue de Téo, o caminho é feito por entre bosques, sendo a parte mais interessante, a que confina com o Rio Tinto.
Prosseguimos e em determinada altura, face à inexistência de marcações, acabamos por seguir uma seta feita com cascas de eucalipto. Concerteza alguma partida, já que nos encaminhava no sentido oposto ao pretendido, tendo-nos valido a ajuda de um idoso que nos fez corrigir o rumo.
À passagem de uma ponte que atravessa a autopista, vislumbramos ao longe, por entre a névoa, as torres da Catedral, embora distássemos cerca de 5 kms de Santiago.
Lá fomos tentando algumas fotos, mas o resultado não foi o melhor.
A entrada na cidade é o derradeiro teste às forças do peregrino dado que é necessário vencer uma árdua e prolongada subida.
Entretanto penetramos na apertada malha labiríntica medieval, começando a ver-se em alguns pontos as cúpulas da Catedral, que ora aparecem ora se escondem.
Como previsto, chegamos bastante cedo, o que nos permitiu ir primeiro à oficina do Peregrino, carimbar as credenciar e obter a desejada Compostela. Ainda fomos a tempo de facultar os nossos nomes e origens para serem pronunciados durante a eucaristia celebrada em homenagem aos peregrinos.
De seguida dirigimo-nos para a Praça do Obradoiro, onde pisamos a pedra que simboliza o fim da peregrinação e entramos na catedral pelo Pórtico da Glória, local por onde devem entrar os pergrinos que concluem o Caminho Português.
O que se passou a partir daqui é muito intimo e pessoal e não é fácil transcrevê-lo para um texto, não por escassez de palavras, mas porque as emoções transcendem o nosso vocabulário.
É impressionante a diferença de sentimentos entre uma visita turística, como já havíamos feito e a conclusão de uma longa caminhada, com chuva, sol, muito frio e muito calor, dores, sede, bolhas nos pés e muitos quilómetros percorridos, o que de facto nos purifica a alma e aumenta a nossa capacidade de captação de energias.
Em resumo, a entrada na Catedral permitiu-nos sentir toda a energia que emana deste local, carregada por infinitos peregrinos durante séculos, com um forte e agradável arrepio que nos percorria todo o corpo…
É indescritível e tem mesmo que ser vivido na primeira pessoa.
Foi muito importante para nós o abraço ao Apóstolo e a visita ao seu túmulo, mas o mais importante foi de facto reconhecermos que ao longo da nossa vida, tal como nesta caminhada, carregamos muitas coisas que não são necessárias e das quais normalmente não prescindimos. Podemos de facto tornar as nossas vidas muito mais fáceis…
Após a missa do peregrino, ao que se seguiu o almoço, dirigimo-nos para o Seminário Menor, situado no alta de uma colina, com uma vista fantástica sobre o centro histórico de Santiago de Compostela.
Suseya!
Há cerca de um ano atrás o Nuno e a Cláudia, em conversa com o Paulo, souberam da vontade deste em fazer o caminho Português a Santiago, desde Valença a Compostela.
A conversa alimentou um desejo antigo de ambos que, até ao momento, não tinham tido a coragem de por em prática esse sonho.
Há quem diga que o Caminho de Santiago se inicia quando se toma a decisão de o percorrer. De facto sentimos isso.
Os vários testemunhos de peregrinos que tivemos a oportunidade de ler, os guias e os livros que consultamos punham-nos já com um pé no caminho.
Como cristãos que somos sentimos que o Caminho de Santiago é mais do que uma caminhada arrojada, não podendo ser visto apenas como o testar das capacidades físicas de cada um.
Rumar ao túmulo do Apóstolo Santiago em peregrinação é pois um acto de Fé . De acordo com as palavras do Papa João Paulo II a peregrinação “reproduz a condição do Homem, que gosta de descrever a sua existência como um caminho. Do nascimento até à morte, cada um vive na condição peculiar de "homo viator".
Foi com este espírito que começamos a preparar a nova viagem. Decidimos que iríamos iniciar o Caminho de Santiago da Sé do Porto e que faríamos todas as etapas em autonomia, como verdadeiros peregrinos, ficando a dormir nos Albergues existentes ao longo do caminho.
Contactando a Associação Jacobeus solicitamos as nossas Credenciais, documento que funciona como o “Bilhete de Identidade” do Peregrino, contendo os seus dados pessoais e uma série de espaços em branco onde se colocam os carimbos dos Albergues, das Autarquias, Paróquias ou estabelecimentos que confirmem a passagem do Peregrino pelo caminho. A Credencial serve para aceder aos Albergues e solicitar a Compostela na Catedral de Santiago.
Também adquirimos as vieiras, conchas que simbolizam a Peregrinação a Santiago, as quais são geralmente colocadas nas mochilas dos peregrinos e que, de acordo com o ritual, deverão ser lançadas ao mar em Finisterra, no final do Caminho.
Ultreya!
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