Quarta-feira, 5 de Novembro de 2008

aventura na linha do vouga - 3º dia

25/09/2008

A alvorada foi à mesma hora do dia anterior e o objectivo era que os preparativos não demorassem tanto. No entanto, tal não foi possível, porque o Nuno deu pela falta da chave do carro. Após algum tempo de procura, acabamos por achar que ela podia ter ficado esquecida na pizzaria. Assim, decidimos ir lá tomar o pequeno-almoço, aproveitando para a procurar. Visto que àquela hora o local ainda se encontrava fechado, dirigimo-nos então a uma mercearia tradicional para efectuarmos as compras dos bens necessários para esse dia. Aí pudemos encontrar produtos que há muitos anos não víamos, como sendo por exemplo a Pasta Dentífrica Medicinal Couto, o desodorizante Lander e pensos higiénicos Serena. Para além disso, encontramos à venda uma boroa verdadeiramente divinal, que todos acabamos por comprar.  Dirigimo-nos então à pizzaria, que também funciona como café, para tomar o pequeno-almoço e procurar a dita chave. Acreditem ou não, até no lixo do dia anterior andamos a remexer. Penso que não admira. Até estou a imaginar títulos para o jornal local: “Vagabundos do Tua a remexer no lixo do Vouga”, ou então “Para além de já não terem onde dormir, Vagabundos já nem têm o que comer”. Terminada a busca sem quaisquer resultados, tomamos o pequeno-almoço. Durante essa refeição, na qual o Nuno se sentia um pouco angustiado, veio à baila história semelhante de perdidos e achados, em que em determinado acampamento de escuteiros, um jovem perdeu os óculos. Após grande rebuliço nocturno, ele apareceu com eles na cara no dia seguinte, para grande espanto dos responsáveis. Com cara de grande felicidade disse: “oh chefe, estavam no saco cama!”. Esta história serviu de motivação, para aumentar a esperança, que também a “nossa” chave estivesse, quem sabe, no saco-cama do Nuno. Dirigimo-nos então de volta à associação, e mal chegamos, o Nuno foi procurar a chave, não no saco-cama, mas imediatamente ao lado, mais precisamente em cima da mochila, a qual já tinha revirado antes de sairmos para as compras. Ao aproximar-se desta, disse todo contente em jeito de piada: “oh chefe, estava na mochila!” Após as arrumações e acomodações das mochilas, regressamos à nossa aventura para dar inicio ao terceiro dia.

Voltamos ao local onde concluímos o percurso do dia anterior e pouco tempo depois, deparamo-nos com o primeiro túnel do dia, o 9º que encontramos, designado de Póvoa Urs… Infelizmente, não estava totalmente legível. O comprimento deste era 28 metros.

Passamos de seguida pelo local que deveria ter sido o apeadeiro de Quintela (Km 52,9/85,6). Deste não sobra nenhum vestígio. Pensamos que seria nas imediações de um curso de água, sobre o qual a linha deveria passar.

Chegamos entretanto a Arcozelo das Maias (Km 54,6/83,9), onde o apeadeiro se encontra em restauro e em processo de ampliação, tudo indicando que seja para aproveitamento público. De seguida, passamos pelo local onde outrora existiu a casa da guarda da passagem de nível, onde foi edificado um imóvel de construção em propriedade horizontal. Cruzamos de seguida a estrada nacional e passamos por um terreno onde haviam sinais de trabalhos de madeireiro, para além de uns montes de palha a secar.

Mais à frente, fomo-nos deparando com vestígios de elementos originais da linha, nomeadamente travessas de madeira, parafusos, um pilar com identificação da CP e o tradicional aviso de “Atenção aos comboios. Pare escute e olhe. Proibido o trânsito pela linha”.

À entrada de Ribeiradio (Km 57,9/80,6) encontramos a escadaria de acesso à Casa do Povo, feita em travessas usadas na linha férrea e sinalética da mesma.

Surge então a estação, que se encontra em bom estado de conservação, tendo sido convertida na sede da Banda Marcial Ribeiradiense, fundada em 1890. Existe uma placa de indicação desta estação. Apesar de ter sido retirada do local, alguém fez questão de preservar, encontrando-se em exposição naquele que era o cais da gare.

Um pouco mais à frente, encontra-se edificada uma moradia térrea, cujo acesso é através da linha. Mais um exemplo que com certeza irá criar dificuldades de instalação da tão badalada ecopista.

Chegamos entretanto ao apeadeiro de Senhora de Lourosa (Km 59,3/79,2) que se encontra em mau estado de conservação, mas pelo menos presente! A vegetação cresce abundantemente à sua volta, mas ainda dá para observar. Pelo menos por enquanto!

Passamos entretanto pelo 10º túnel e logo de seguida pelo 11º, ambos sem informação da denominação ou comprimento.

Quando começamos a aproximar-nos da localidade de Cedrim (Km 62,7/75,8), o troço da linha foi transformado em estrada alcatroada.

A estação, à semelhança de muitas outras, encontra-se envolta em vegetação, e em estado avançado de degradação. Deveria ter alguma importância geográfica, pois possuía armazém para mercadorias, também este muito degradado.

 

O percurso revelou-se nesta fase difícil de transitar, fruto da grande quantidade de vegetação existente. Pudemos inclusive visualizar o efeito engraçado que o crescimento de duas árvores provocou, parecendo criar um túnel natural, ao unir os seus ramos. Chegamos então a um troço que foi amplamente alterado, tendo sido desaterrado para criar um local de pasto para gado bovino, encontrando-se vedado. Quando nos preparávamos para passar essa barreira, fomos alertados por um habitante local que não o deveríamos fazer, porque as vacas nos poderiam dar uma marrada. Assim, não nos restou alternativa que não seguir pela estrada, contornando este troço. Entramos numa zona de plantação de eucaliptos, na qual se começou a espreitar o Rio Vouga. Surge o 12º túnel, o de maior extensão, 47 metros, cujo nome não era totalmente visível, mas se assemelhava a …ara Velha. Seguiram-se quase colados os 13º e 14º túneis.

Avistamos Paradela (Km 66,5/72), e surge-nos uma placa identificativa da rua que antes era linha, cujo nome é alcunha do comboio que aqui circulava – Vouguinha.

O comboio cruzava a estrada principal através de uma ponte, que já não existe e logo de seguida surgem as instalações da antiga fábrica de massas Vouga. O edifício da estação, não sendo dos mais degradados, encontra-se actualmente sem qualquer utilidade. Foi este o local escolhido para almoçarmos.

A partir deste ponto existe um troço já transformado em ecopista. Quem a projectou teve apenas a preocupação com os praticantes de bicicleta, pois o piso não é o ideal para quem, como nós, gosta de se dedicar às caminhadas. Ainda neste cenário, cruzamos os túneis 15º e 16º.

Seguiu-se a travessia de mais uma ponte, que pensamos ser a Ponte Hintze Ribeiro. O piso da ecopista é interrompido nesta parte, dando lugar às tradicionais travessas, cobertas com terra para facilitar a circulação de bicicletas. Voltamos de seguida ao piso que vínhamos trilhando e foi na presença deste que cruzamos mais um túnel, o 17º. Este troço, entre Paradela e Carvoeiro, foi o mais longo de todos, numa extensão total de 8 quilómetros. Encontramos nesta fase do percurso vários ciclistas e outros praticantes de caminhadas. Estes no entanto só estavam a percorrer a pista vermelha. O sol estava nessa altura no auge e o calor apertava imenso. Fruto da falta de sombra nesta parte do percurso, aliviou-nos um pouco a paisagem, pois caminhávamos por esta altura na margem direita do rio Vouga, que nos acompanhou daqui em diante, quase até ao final.

Assim, depois de caminharmos imenso nesta pista vermelha, voltamos à terra e tivemos mesmo que seguir um pouco pela estrada, fruto da vegetação que nos impediu de seguir o traçado original. Cruzamos de seguida a estrada nacional e entramos então numa zona de vegetação muito cerrada, quase formando túneis naturais. Encontramos algumas construções engraçadas, que aparentavam ser armazéns e casas de apoio à linha férrea.

Chegamos enfim a Carvoeiro (Km 74,5/64). O apeadeiro já não existe. Paramos num café para bebermos imensa água, fruto do enorme calor que referimos anteriormente. Aqui estivemos à conversa com alguns clientes, que nos contaram algumas histórias relacionadas com a linha e os comboios que aqui circulavam. No entanto, apesar de já faltar pouco, o troço final ainda estava por percorrer e apesar do cansaço, foi com energia redobrada que metemos pés ao caminho mais uma vez. Esta energia provinha do facto de termos descansado um pouco e bebido bastante água, mas também pela perspectiva do nosso objectivo estar mais perto que nunca de ser alcançado.

 

Tivemos agora que seguir não só por estrada, mas inclusive por alguns acessos da via rápida. Nesta fase nem sequer se pode falar em percurso descaracterizado, mas antes de irreconhecível! Mas apesar de algumas confusões, lá nos fomos orientando. Passamos de seguida por uma ponte totalmente em aço, piso incluído, por onde passam actualmente automóveis (um sentido de cada vez).

 

Esta ponte fica mesmo à entrada do nosso destino, a estação de Sernada do Vouga (Km 77/61,5). Esta estação impressiona pela sua grandiosidade quando comparada com todas as outras. Nota-se que há ainda muitos edifícios em utilização e as automotoras e carruagens encontram-se um pouco por todo o lado. Pudemos inclusive ver uma locomotiva extremamente antiga. Escusado será dizer que este foi um momento de grande satisfação para todos. Apesar de gostarmos imenso de caminhar e de toda a envolvência a que isso leva, chegar ao final, sobretudo num percurso longo como este, tem um sabor muito especial. Foi isso que todos nós sentimos a satisfação do objectivo alcançado. Depois de uns momentos de confraternização e das fotos da praxe, deslocamo-nos ao café da estação, para bebermos uns finos e comermos uns amendoins e uns tremoços. Foi a comemoração final.

e seguida, voltamos à estrada, mas desta vez de carro. Pegamos na viatura que aqui tinha ficado estacionada no primeiro dia e fomos recolher as restantes, antes de voltarmos às respectivas casas e ao merecido banho e descanso. Se tudo correr como planeado, para o ano haverá mais. Se possível, não do mesmo, mas melhor! Até lá…

 

publicado por vagabundos às 15:34
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