Sábado, 15 de Novembro de 2008

Vagabundos no Trilho da Chão – PR8 de Viana do Castelo

Primeiro de Novembro de 2008, dia de todos os Santos. Bem cedo, os vagabundos Hélder e Paulo encontraram-se em Gaia, tendo depois rumado a Vila do Conde, para se encontrarem com a Cláudia e o Nuno. O destino era Viana do Castelo, com o intuito de efectuarem o PR8 local. Após uma paragem nas imediações da cidade, para o tradicional pingo, lá rumaram, ainda de carro, até ao local onde se inicia este trajecto.

O dia encontrava-se muito agradável para uma actividade deste género. Sem demasiadas nuvens nem demasiado sol, sem demasiado frio nem demasiado calor, sem chuva mas com alguma humidade do terreno, fruto das chuvas dessa semana. Este era um típico dia de Outono, em que tudo tem uma beleza fascinante.

Começamos no meio de uma povoação, mais propriamente junto do edifício da Sociedade de Instrução e Recreio de Carreço. Logo no início fizemos um pequeno desvio, em busca de umas gravuras rupestres, mas em boa verdade, não as conseguimos identificar. Fomo-nos afastando, em direcção à serra.

Com um traçado que na sua fase inicial é sempre a subir, com muita vegetação e terreno a alternar a terra com a pedra, quando nos começamos a aproximar dos pontos mais altos começamos a ter uma visão fantástica. É que apesar de estarmos a subir a serra, quando a altitude já o permite, também se consegue ver o mar e a praia de Vila Praia de Âncora, com o monte de Santa Tecla, na Galiza ao fundo, numa harmoniosa combinação de ambos os elementos, serra e mar, num verdadeiro capricho da natureza.

 Quando chegamos perto do topo, encontramos uma espécie de planalto. Em nossa opinião, é sempre muito agradável esta forma de relevo, pois permite-nos apreciar em todo o seu esplendor, o topo da montanha, sem um cansaço muito grande. A frescura do ar é fabulosa e em geral, encontram-se sempre animais muito simpáticos por estas paragens. Neste caso, para além de algumas aves, cruzamo-nos sobretudo com cavalos selvagens, os Garranos e vacas, as tradicionais Barrosãs, uma das quais apresentava uma característica bastante diferenciadora: a presença de um único corno! Para além disso, a paisagem é sempre muito agradável.

Finalmente, com mais um pouco de esforço, não só físico mas também cutâneo, lá fizemos a escalada final, pelo chamado “caminho de pé posto”, até alcançarmos o marco geodésico (caros Luís e Vítor, da próxima vez, já não precisam fazer figurinhas tolas, ok?), que assinala o ponto mais alto desta serra de Santa Luzia (550 m). Estávamos na dúvida entre merendarmos aqui ou procurarmos a casa florestal, cuja indicação tínhamos encontrado antes da subida ao marco geodésico. Como era cedo, optamos por apreciar a paisagem e descer em seguida, para comermos num local mais abrigado. O vento aqui faz-se sentir de forma intensa, tal como a beleza da paisagem. É verdadeiramente impressionante olhar em redor e ver serra a perder de vista.

Quando a fome começou a apertar, lá voltamos a descer pelo referido caminho de pé posto, com a adição de mais alguns arranhões valentes e até um rabo pisado, fruto de uma escorregadela da Cláudia. Mas não admira, o terreno estava mesmo a proporcionar! Após seguirmos na direcção indicada pela placa, tivemos imensa dificuldade em encontrar a casa florestal e tivemos mesmo que avançar e retroceder algumas vezes. E a desilusão não poderia ter sido maior. É que a casa está totalmente em ruínas. O que nos valeu, foi uma clareira com erva mesmo ao lado, que nos permitiu comer num local razoavelmente aprazível. É uma pena que se deixem chegar as coisas a este estado de degradação.

 

 

Finda a hora da paparoca, lá iniciamos a descida, agora por um outro caminho, visto este ser um percurso parcialmente circular. Foi nesta fase que pudemos testemunhar e mesmo fotografar um momento sublime e quase único, o de uma mamã égua a alimentar o seu filhote. Sem palavras!

O restante trajecto não tem muito mais particularidades que mereçam ser registadas, à excepção do miradouro de Mior que dispunha de uma bandeira branca e que nos criou alguma curiosidade quanto ao seu objectivo. Chegados ao carro, fizemos o habitual lanche e rumamos novamente a cada casa. Foi um dia agradável. No total, este percurso contabiliza 18,9 quilómetros, com um grau de dificuldade moderado. A marcação encontra-se em geral bem realizada e conservada, levando-nos a efectuar uma avaliação bastante positiva.

 

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Quarta-feira, 5 de Novembro de 2008

aventura na linha do vouga - introdução

 

 

No seguimento da experiência do ano passado, em que trilhamos a linha desactivada do Tua, este ano decidimos manter o formato e apenas mudamos o local. Desta feita a escolha recaiu na linha do Vouga. Depois de muitas discussões sobre a melhor divisão das etapas, bem como do sentido a seguir, optamos por iniciar o percurso em Abravezes (Viseu) e concluir em Sernada do Vouga. No final, a decisão passou por dividir a totalidade dos 77 quilómetros que ligam estas duas localidades, em três etapas:

Viseu / Abravezes -> S. Pedro do Sul – 25 Km

S. Pedro do Sul -> Sta. Cruz – 24,8 Km

 

 

Santa Cruz -> Sernada do Vouga – 27,2 Km

 

Após longas negociações, tínhamos previsto a participação de um total de 8 vagabundos para alinhar nesta aventura. No entanto, devido a lesões ou doenças, só 5 é que se apresentaram na linha da partida. Enquanto o Mário ficou de cama com uma gripe valente, o Vítor, a braços com uma lesão, e consequentemente a Marta, também não reuniram condições de participação.

7:45h foi a hora escolhida para reunir as tropas. O local eleito foi a estação de serviço de Vouzela, em plena A5. O Hélder saiu de Seixezelo e encontrou-se com o Paulo em Jaca às 6:30h. Daqui partiram ao encontro do Luís, em Pinheiro da Bemposta, às 7:00h. Daqui, dirigiram-se a Sernada do Vouga, onde deixaram uma viatura. Partiram depois para a referida estação de serviço, onde se reuniram à hora marcada, com a Cláudia e o Nuno, provenientes de Retorta.

 

 

 

 

 

publicado por vagabundos às 15:53
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aventura na linha do vouga - 1º dia

Nota introdutória: para melhor entendimento do leitor, ao referirmos a quilometragem, optamos por indicar duas distâncias. A primeira, corresponde ao total de quilómetros que calcorreamos, a segunda, refere-se à quilometragem original da linha.

 

25/09/2008

O acordo passava por deixar uma segunda viatura em S. Pedro do Sul, rumando de seguida para Viseu. Antes de iniciarmos a caminhada, optamos por efectuar uma peregrinação a um “local sagrado”, a confeitaria Amaral. No entanto, antes disso, decidimos passar pelo único vestígio da extinta estação de Viseu, o depósito de água, que outrora servia para arrefecimento das máquinas a vapor. Depois de bem abastecidos de Viriatos, que é, para quem não sabe, o doce típico da região e em particular desta confeitaria, e do tradicional pingo, dirigimo-nos ao quartel da GNR, na localidade de Abravezes (Km 0/138,5).

 

 

 

 

 

 

Aqui deixamos a terceira viatura. A localização deste edifício é mesmo no local de passagem da linha. Eram 10 horas quando começamos a nossa caminhada. Nesta fase inicial do percurso, temos que salientar a dificuldade em reconhecer o traçado da linha. Inclusive, foi de todo impossível descortinar o apeadeiro local, que supomos já ter sido desmoronado.

 

 

Até chegarmos à localidade de Campos, os únicos vestígios que vislumbramos da existência da linha, foram alguns parafusos com o logo da CP.

 

Foi nesta localidade que encontramos a simpática D. Maria Ercília, proprietária do Café Grilo, que nos contou histórias passadas relacionadas com a via-férrea. Foi ela que nos ajudou a perceber o traçado original da linha à passagem por este local. Actualmente está totalmente irreconhecível, fruto da construção de um ramal de acesso à A25.

Antes de chegarmos ao apeadeiro seguinte, vislumbramos uma casa construída com materiais provenientes da linha. O resultado da construção é extremamente interessante e pitoresco.

Para além disso, foi até esse momento, a maior concentração de vestígios que havíamos visto. Ainda esta imagem nos estava na retina, já outra nos entrava pelos olhos dentro, porventura ainda mais bonita. De uma forma poética, podemos dizer que numa eira, vislumbramos um mar de milho. É um espectáculo digno de ser visto. Em boa verdade, a mãe natureza sabe o que faz. E o homem, quando está para aí virado, sabe contribuir.

 

 

 

O  ponto de interesse seguinte foi o apeadeiro de Mozelos (Km 4,2/134,4), que se encontra num estado de degradação total. O local assemelha-se a um ferro velho, tal a quantidade de velharias e lixo aí existentes. O edifício nem identificação possui e encontra-se já bastante degradado. Apesar disso, parece ainda ter alguma utilidade. Não conseguimos foi perceber muito qual!

Entretanto, os já escassos sinais de existência da linha, tornaram-se ainda mais difíceis de localizar, chegando mesmo a desaparecer por completo, o que nos fez seguir por um traçado paralelo, onde vislumbramos uma televisão e uns toros de madeira, criando um cenário cómico. Apesar de impossível, dava mesmo a ideia que alguém se entretinha a ver os programas da manhã aqui sentado.

Após conseguirmos localizar uma vez mais o traçado, fomos depois desembocar à Rua da Desmontada. Um pouco mais à frente surge o apeadeiro de Travanca da Budiosa (Km 6,5/132), que era ao mesmo tempo passagem de nível ao quilómetro 132,022, tal como registado fotograficamente.

Foi este o local escolhido para realizarmos a pausa para o pequeno-almoço. Finalmente, no troço seguinte encontramos o primeiro vestígio de ferro carril. Decidimos celebrar tal momento, com a postura das nossas botas em cima deste marco. O antigo traçado da linha foi agora substituído por uma estrada, que eliminou por completo a sua presença. No entanto, mais tarde voltamos a encontra-lo, podendo ver de longe a longe a presença desta.

 

Foi neste cenário que chegamos à estação da Bodiosa (Km 9,2/129,3). Esta tem vestígios de ser habitada e o seu estado de conservação é bastante razoável.

Verificamos que nesta estação, havia possibilidade de comboios circularem em sentidos diferentes. Graças ao cais duplo, do qual ainda pudemos ver alguns vestígios, permitia o cruzamento entre as viaturas. Há um detalhe que temos que realçar, que é o trabalhado do telhado, extremamente bonito e antigo, revelador de que este é original da própria estação.

Neste ponto, o nosso trajecto era coincidente com uma rota PR. Ao longe, já se avistava a Igreja Velha de S. Miguel do Mato. Tivemos que fazer um pequeno desvio para podermos ver de perto esta construção e foi com imensa pena que constatamos o avançado estado de degradação em que esta se encontra.

 Após esta referência, deparamo-nos com o 1º túnel que encontramos. O tecto, está completamente negro, fruto do fumo que ao longo de muitos anos foi largado pelos comboios que aqui passavam.

 

Chegados a Moçamedes (Km 14,9/123,6), que também dispõe de cais duplo, verificamos que esta estação está em óptimo estado e foi aproveitado e reconstruído para albergar a Junta de Freguesia de S. Miguel do Mato.

 

Foi este o local escolhido para almoçarmos. Deslocamo-nos depois a um café próximo, para tomarmos o habitual pingo. A paisagem da parte da tarde foi-se tornando mais cativante, na medida em que nos afastamos de locais habitados. Passamos então pelo 2º túnel. Estes, começaram a ser uma constante daqui em diante.

À entrada da localidade de Real das Donas (Km 17,5/120,9), o traçado da linha desapareceu por completo tendo sido substituído por uma estrada que atravessa completamente a localidade. Inclusive, o próprio apeadeiro também desapareceu.

 

Depois de alguns momentos de confusão, voltamos a encontrar o traçado, coincidente em parte com o PR7 de S. Pedro do Sul. Daqui em diante, não se encontram quaisquer casas, sendo um tipo de trajecto mais do nosso agrado. A paisagem era sobretudo constituída por arvoredo, não havendo grandes motivos para êxtase visual, mas o isolamento é algo que prezamos bastante neste tipo de actividades.

Só à entrada de S. Pedro do Sul (Km 25/113,5), é que voltamos a vislumbrar sinais de “civilização”. Aqui pudemos ver vestígios da linha, bem como uma magnífica ponte sobre o Rio Vouga, que foi reconvertida em passagem de automóveis. A estação também foi transformada em café e local de artesanato. Pelas fotos existentes no interior relativas a esta estação, concluímos que esta deveria ter imenso movimento. Por fora, o aspecto é muito agradável.

 

Daqui seguimos para o centro, onde havíamos deixado a viatura. Lanchamos, e fomos depois em busca das piscinas, onde nos permitiram tomar um duche de forma gratuita. Fica aqui uma palavra de agradecimento a esta instituição. De seguida fomos em busca de local para pernoitarmos. Não que esta situação nos preocupasse muito, mas na mente de todos nós estava a caricata situação que vivemos há cerca de um ano, à porta da C.M. Macedo de Cavaleiros. Assim, ao passarmos pelos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul, lembramo-nos que estes homens e mulheres habitualmente designados de soldados da paz, costumam ter boas condições e excelente espírito de ajuda. Assim, dirigimo-nos até lá e falamos com o Sr. Comandante, que pronta e gentilmente nos disponibilizou de imediato o salão superior, para estendermos os sacos-cama e as colchonetes. Jantamos no restaurante central.

 

publicado por vagabundos às 15:52
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aventura na linha do vouga - 2º dia

26/09/2008

A alvorada foi às 8 horas, mas foi em ritmo lento que iniciamos os preparativos. Fomos tomar o pequeno-almoço a uma confeitaria local e efectuamos as compras dos bens necessários para este dia num supermercado local. Quando andávamos nestas andanças, uma anciã que nos viu de mochila às costas saiu-se com a seguinte tirada: “Onde ides meus meninos? Ides para a tropa? Casai antes com uma gaja boa!” Escusado será dizer que este episódio serviu de mote para grande risota, que se repetiu ao longo do dia.

Este arranque foi tão lento, que só às 10:30 horas é que iniciamos a marcha até à estação. Desta forma, só começamos efectivamente a caminhar no percurso às 11 horas. O primeiro apeadeiro que deveríamos ter encontrado era Drizes (Km 25,9/112,6), mas infelizmente, já não existe. O troço compreendido entre S. Pedro do Sul e este apeadeiro era o mais curto de toda a linha que percorremos, com apenas 0,9 quilómetros. O único sinal que encontrámos, foi um nome de rua alusivo à linha.

A paisagem era por esta altura mais agradável que no dia anterior, porque havia menor quantidade de habitações e maior verdura, onde predominavam os castanheiros. Cruzamos então a primeira ponte deste dia, que passa sobre um afluente do rio Vouga.

 

O traçado da via férrea seguia agora paralelo à EN16, chegando mesmo a cruza-la imediatamente antes da estação das Termas de S. Pedro do Sul (Km28,5/110). Esta revelou ser diferente de todas as outras, devido ao seu revestimento ser totalmente em azulejo. Nota-se que era uma estação mais "fina" que as restantes, fruto das pessoas que a movimentavam noutros tempos. Sim, porque em tempos que já lá vão, esta história de ir a banhos para as termas não era para qualquer um.

O seguimento do traçado foi muito difícil de encontrar. A paisagem continuava a revelar-se muito agradável e nem mesmo uma casa de construção tradicional da Região da Beira nos tirou o entusiasmo.

Seguiu-se a passagem pelo primeiro túnel do dia, o 3º que encontramos no traçado.

À entrada de Vouzela (Km 32,3/106,2) a linha está totalmente descaracterizada e mantém-se assim até chegarmos à estação, que está convertida em central de camionagem. Aqui pudemos observar, que há semelhança das outras ao longo desta via, a sua construção tem características francesas, pelo facto de a companhia construtora ter algum capital e engenheiros desta nacionalidade. A estação está bem conservada e dispõe ainda do depósito de água, que "abastecia" os comboios a vapor, que circularam nesta linha até 1972.

 

À entrada da ponte imediatamente a seguir, datada de 1913 e que passa sobre o Rio Zela, pudemos observar uma locomotiva a vapor E202, adquirida pelos Caminhos de Ferro do Estado em 1911 à firma alemã Henschel & Sohn, própria para linhas de via estreita.

Um pouco adiante, vimos uma pequena ponte “improvisada”. Infelizmente, uma dos poucos marcos que sugeria aventura. De seguida cruzamos a terceira ponte do dia. Daqui já se avista a Serra da Arada e logo ao lado, a da Gralheira. Um pouco mais a norte, está a serra da Freita, que bem conhecemos das imensas caminhadas que aí realizamos ao longo do ano. Seguiu-se a passagem pelo 4º túnel.

Aqui, o percurso, à semelhança do que encontramos no ano anterior, tinha ainda muita pedra no chão, o que dificultava a marcha. Cruzamos uma estrada que deverá ser de construção recente, e logo adiante surge o 5º túnel. Seguiu-se uma parte de trajecto descaracterizada, que nos obrigou a perguntar a alguns anciãos sobre a direcção a seguir.

O percurso voltou então a ser em cascalho e foi neste cenário que encontramos o 6º túnel ao que se seguiu o apeadeiro de S. Vicente de Lafões (Km38,5/100), que marca exactamente o meio da nossa aventura. Foi este o local escolhido para almoçar. O edifício apresenta-se muito degradado e com sinais nítidos de vandalismo. Aqui, realizamos o primeiro campeonato de arremesso da pedra à lata. Sem um alvo tradicional por perto, improvisamos com uma ponta de tubo de PVC. Não deixamos este local sem antes tomarmos o tradicional pingo.

Colocamos novamente os pezinhos à estrada, ou melhor à linha, ou aos vestígios que sobram, que por esta altura são muito escassos. Perto de um espigueiro, fomos confrontados com uma bifurcação, na qual hesitamos sobre qual o caminho a seguir, visto que ambos poderiam ser o caminho original da linha. Avistamos umas habitantes locais que se dirigiam a nós no sentido contrário, e então questionaram-nos sobre o que estávamos ali a fazer, pois estranharam verem 5 vagabundos parados a olharem para elas. Quando respondemos que estávamos à espera delas, disseram muito aflitas: “Ai meu Deus!” – pensando por certo que lhes iríamos fazer algum mal. Logo esclarecemos a situação e pedimos que nos indicassem qual o trajecto a seguir, com vista a encontrarmos o traçado da linha. Daqui e até à estação seguinte o trilho é quase imperceptível e foi transformado em estrada asfaltada. No entanto, havia vestígios de que a linha passava de facto nestes pontos.

 

Chegamos então a Oliveira de Frades (Km 40,7/97,8). Para nosso espanto e desalento, a linha desapareceu por completo e até a localização original da estação foi mudada. As autoridades locais, optaram por efectuar a demolição do local original e construí-la num local totalmente diferente. Tivemos no entanto a oportunidade de ver um lindíssimo painel de azulejos alusivo à linha e mantivemos uma conversa com um habitante local, que disse ter muitas saudades da época em que o comboio por aqui passava. Depois desta localidade, voltamos a encontrar o tipo de traçado a que vínhamos habituados. Cruzamos o 7º túnel, que tinha placa com o nome (já irreconhecível) e a extensão do mesmo. Neste caso, o comprimento era de 25 metros. Daqui em diante à entrada de cada túnel, tentávamos adivinhar o respectivo comprimento numa espécie de apostas, a ver quem se aproximava mais ou porventura acertava sem erro. À chegada ao túnel seguinte, o 8º do nosso trajecto, encontramos duas senhoras que também trilhavam a linha, mas com objectivos diferentes dos nossos. Elas eram habitantes locais, que se dirigiam apenas para casa. Foi na companhia delas que cruzamos este túnel, também com 25 metros de comprimento, mas desta vez, podia ler-se o nome: Outeirais.

 

À passagem por Pinheiro de Lafões (Km 44,8/93,7), não foi possível vermos o respectivo apeadeiro, pois já não existe. Seguiu-se a passagem por mais uma ponte, que ainda conserva os carris e travessas originais. Apenas colocaram saibro por cima, com vista à passagem de veículos e desta forma aproveitar a existência da mesma. Nas imediações desta, verificamos a existência de uma igreja e cemitério. Discutimos inclusive a questão dos horários, pois provavelmente a missa não se deveria desenrolar à hora de passagem dos comboios.

Chegamos então ao apeadeiro de Nespereira do Vouga (Km 47,2/91,3). Este encontrava-se bastante degradado, com imenso mato a cerca-lo. Por esta altura, a linha passa pelo meio de muito arvoredo e foi dos poucos sítios em que à semelhança do ano anterior, encontramos muito cascalho. No entanto, não estava no caminho, mas antes arrumado para o lado. Salientamos o majestoso porte de um sobreiro com que nos cruzamos, que teria provavelmente para cima de um século.

O apeadeiro de Santa Cruz (Km 49,8/88,7) já não existe. Foi da pior maneira que descobrimos este facto, uma vez que passamos adiante uns 2 quilómetros. Só à chegada ao Lugar da Póvoa, quando estávamos a colher umas uvas, é que encontramos um habitante que nos indicou já termos passado por essa localidade. Tivemos então que voltar para trás, uma vez que esse era o local onde iríamos pernoitar.

Aí chegados, contactamos o Sr. António Manuel, um dos responsáveis da Associação local. Uma semana antes, tínhamo-lo abordado no sentido de pernoitarmos no interior das instalações desta associação e aí tomarmos um banho. De imediato aquiesceu, facto que também aqui salientamos. Após estendermos os sacos-cama, tomamos um delicioso banho e fomos depois em busca de um restaurante. Havia na localidade duas opções, entre os quais uma pizzaria. A nossa escolha recaiu precisamente na comida italiana, por sinal muito bem confeccionada. Depois disto, restava-nos o merecido descanso.

 

publicado por vagabundos às 15:43
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aventura na linha do vouga - 3º dia

25/09/2008

A alvorada foi à mesma hora do dia anterior e o objectivo era que os preparativos não demorassem tanto. No entanto, tal não foi possível, porque o Nuno deu pela falta da chave do carro. Após algum tempo de procura, acabamos por achar que ela podia ter ficado esquecida na pizzaria. Assim, decidimos ir lá tomar o pequeno-almoço, aproveitando para a procurar. Visto que àquela hora o local ainda se encontrava fechado, dirigimo-nos então a uma mercearia tradicional para efectuarmos as compras dos bens necessários para esse dia. Aí pudemos encontrar produtos que há muitos anos não víamos, como sendo por exemplo a Pasta Dentífrica Medicinal Couto, o desodorizante Lander e pensos higiénicos Serena. Para além disso, encontramos à venda uma boroa verdadeiramente divinal, que todos acabamos por comprar.  Dirigimo-nos então à pizzaria, que também funciona como café, para tomar o pequeno-almoço e procurar a dita chave. Acreditem ou não, até no lixo do dia anterior andamos a remexer. Penso que não admira. Até estou a imaginar títulos para o jornal local: “Vagabundos do Tua a remexer no lixo do Vouga”, ou então “Para além de já não terem onde dormir, Vagabundos já nem têm o que comer”. Terminada a busca sem quaisquer resultados, tomamos o pequeno-almoço. Durante essa refeição, na qual o Nuno se sentia um pouco angustiado, veio à baila história semelhante de perdidos e achados, em que em determinado acampamento de escuteiros, um jovem perdeu os óculos. Após grande rebuliço nocturno, ele apareceu com eles na cara no dia seguinte, para grande espanto dos responsáveis. Com cara de grande felicidade disse: “oh chefe, estavam no saco cama!”. Esta história serviu de motivação, para aumentar a esperança, que também a “nossa” chave estivesse, quem sabe, no saco-cama do Nuno. Dirigimo-nos então de volta à associação, e mal chegamos, o Nuno foi procurar a chave, não no saco-cama, mas imediatamente ao lado, mais precisamente em cima da mochila, a qual já tinha revirado antes de sairmos para as compras. Ao aproximar-se desta, disse todo contente em jeito de piada: “oh chefe, estava na mochila!” Após as arrumações e acomodações das mochilas, regressamos à nossa aventura para dar inicio ao terceiro dia.

Voltamos ao local onde concluímos o percurso do dia anterior e pouco tempo depois, deparamo-nos com o primeiro túnel do dia, o 9º que encontramos, designado de Póvoa Urs… Infelizmente, não estava totalmente legível. O comprimento deste era 28 metros.

Passamos de seguida pelo local que deveria ter sido o apeadeiro de Quintela (Km 52,9/85,6). Deste não sobra nenhum vestígio. Pensamos que seria nas imediações de um curso de água, sobre o qual a linha deveria passar.

Chegamos entretanto a Arcozelo das Maias (Km 54,6/83,9), onde o apeadeiro se encontra em restauro e em processo de ampliação, tudo indicando que seja para aproveitamento público. De seguida, passamos pelo local onde outrora existiu a casa da guarda da passagem de nível, onde foi edificado um imóvel de construção em propriedade horizontal. Cruzamos de seguida a estrada nacional e passamos por um terreno onde haviam sinais de trabalhos de madeireiro, para além de uns montes de palha a secar.

Mais à frente, fomo-nos deparando com vestígios de elementos originais da linha, nomeadamente travessas de madeira, parafusos, um pilar com identificação da CP e o tradicional aviso de “Atenção aos comboios. Pare escute e olhe. Proibido o trânsito pela linha”.

À entrada de Ribeiradio (Km 57,9/80,6) encontramos a escadaria de acesso à Casa do Povo, feita em travessas usadas na linha férrea e sinalética da mesma.

Surge então a estação, que se encontra em bom estado de conservação, tendo sido convertida na sede da Banda Marcial Ribeiradiense, fundada em 1890. Existe uma placa de indicação desta estação. Apesar de ter sido retirada do local, alguém fez questão de preservar, encontrando-se em exposição naquele que era o cais da gare.

Um pouco mais à frente, encontra-se edificada uma moradia térrea, cujo acesso é através da linha. Mais um exemplo que com certeza irá criar dificuldades de instalação da tão badalada ecopista.

Chegamos entretanto ao apeadeiro de Senhora de Lourosa (Km 59,3/79,2) que se encontra em mau estado de conservação, mas pelo menos presente! A vegetação cresce abundantemente à sua volta, mas ainda dá para observar. Pelo menos por enquanto!

Passamos entretanto pelo 10º túnel e logo de seguida pelo 11º, ambos sem informação da denominação ou comprimento.

Quando começamos a aproximar-nos da localidade de Cedrim (Km 62,7/75,8), o troço da linha foi transformado em estrada alcatroada.

A estação, à semelhança de muitas outras, encontra-se envolta em vegetação, e em estado avançado de degradação. Deveria ter alguma importância geográfica, pois possuía armazém para mercadorias, também este muito degradado.

 

O percurso revelou-se nesta fase difícil de transitar, fruto da grande quantidade de vegetação existente. Pudemos inclusive visualizar o efeito engraçado que o crescimento de duas árvores provocou, parecendo criar um túnel natural, ao unir os seus ramos. Chegamos então a um troço que foi amplamente alterado, tendo sido desaterrado para criar um local de pasto para gado bovino, encontrando-se vedado. Quando nos preparávamos para passar essa barreira, fomos alertados por um habitante local que não o deveríamos fazer, porque as vacas nos poderiam dar uma marrada. Assim, não nos restou alternativa que não seguir pela estrada, contornando este troço. Entramos numa zona de plantação de eucaliptos, na qual se começou a espreitar o Rio Vouga. Surge o 12º túnel, o de maior extensão, 47 metros, cujo nome não era totalmente visível, mas se assemelhava a …ara Velha. Seguiram-se quase colados os 13º e 14º túneis.

Avistamos Paradela (Km 66,5/72), e surge-nos uma placa identificativa da rua que antes era linha, cujo nome é alcunha do comboio que aqui circulava – Vouguinha.

O comboio cruzava a estrada principal através de uma ponte, que já não existe e logo de seguida surgem as instalações da antiga fábrica de massas Vouga. O edifício da estação, não sendo dos mais degradados, encontra-se actualmente sem qualquer utilidade. Foi este o local escolhido para almoçarmos.

A partir deste ponto existe um troço já transformado em ecopista. Quem a projectou teve apenas a preocupação com os praticantes de bicicleta, pois o piso não é o ideal para quem, como nós, gosta de se dedicar às caminhadas. Ainda neste cenário, cruzamos os túneis 15º e 16º.

Seguiu-se a travessia de mais uma ponte, que pensamos ser a Ponte Hintze Ribeiro. O piso da ecopista é interrompido nesta parte, dando lugar às tradicionais travessas, cobertas com terra para facilitar a circulação de bicicletas. Voltamos de seguida ao piso que vínhamos trilhando e foi na presença deste que cruzamos mais um túnel, o 17º. Este troço, entre Paradela e Carvoeiro, foi o mais longo de todos, numa extensão total de 8 quilómetros. Encontramos nesta fase do percurso vários ciclistas e outros praticantes de caminhadas. Estes no entanto só estavam a percorrer a pista vermelha. O sol estava nessa altura no auge e o calor apertava imenso. Fruto da falta de sombra nesta parte do percurso, aliviou-nos um pouco a paisagem, pois caminhávamos por esta altura na margem direita do rio Vouga, que nos acompanhou daqui em diante, quase até ao final.

Assim, depois de caminharmos imenso nesta pista vermelha, voltamos à terra e tivemos mesmo que seguir um pouco pela estrada, fruto da vegetação que nos impediu de seguir o traçado original. Cruzamos de seguida a estrada nacional e entramos então numa zona de vegetação muito cerrada, quase formando túneis naturais. Encontramos algumas construções engraçadas, que aparentavam ser armazéns e casas de apoio à linha férrea.

Chegamos enfim a Carvoeiro (Km 74,5/64). O apeadeiro já não existe. Paramos num café para bebermos imensa água, fruto do enorme calor que referimos anteriormente. Aqui estivemos à conversa com alguns clientes, que nos contaram algumas histórias relacionadas com a linha e os comboios que aqui circulavam. No entanto, apesar de já faltar pouco, o troço final ainda estava por percorrer e apesar do cansaço, foi com energia redobrada que metemos pés ao caminho mais uma vez. Esta energia provinha do facto de termos descansado um pouco e bebido bastante água, mas também pela perspectiva do nosso objectivo estar mais perto que nunca de ser alcançado.

 

Tivemos agora que seguir não só por estrada, mas inclusive por alguns acessos da via rápida. Nesta fase nem sequer se pode falar em percurso descaracterizado, mas antes de irreconhecível! Mas apesar de algumas confusões, lá nos fomos orientando. Passamos de seguida por uma ponte totalmente em aço, piso incluído, por onde passam actualmente automóveis (um sentido de cada vez).

 

Esta ponte fica mesmo à entrada do nosso destino, a estação de Sernada do Vouga (Km 77/61,5). Esta estação impressiona pela sua grandiosidade quando comparada com todas as outras. Nota-se que há ainda muitos edifícios em utilização e as automotoras e carruagens encontram-se um pouco por todo o lado. Pudemos inclusive ver uma locomotiva extremamente antiga. Escusado será dizer que este foi um momento de grande satisfação para todos. Apesar de gostarmos imenso de caminhar e de toda a envolvência a que isso leva, chegar ao final, sobretudo num percurso longo como este, tem um sabor muito especial. Foi isso que todos nós sentimos a satisfação do objectivo alcançado. Depois de uns momentos de confraternização e das fotos da praxe, deslocamo-nos ao café da estação, para bebermos uns finos e comermos uns amendoins e uns tremoços. Foi a comemoração final.

e seguida, voltamos à estrada, mas desta vez de carro. Pegamos na viatura que aqui tinha ficado estacionada no primeiro dia e fomos recolher as restantes, antes de voltarmos às respectivas casas e ao merecido banho e descanso. Se tudo correr como planeado, para o ano haverá mais. Se possível, não do mesmo, mas melhor! Até lá…

 

publicado por vagabundos às 15:34
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1. seguir somente pelos trilhos sinalizados 2. cuidado com o gado, por norma não gosta da aproximação de estranhos 3. evitar barulhos e atitudes que perturbem a paz local 4. observar a fauna à distância 5. não danificar a flora 6. não abandonar o lixo, levando-o até um local onde exista serviço de recolha 7. fechar cancelas e portelos 8. respeitar a propriedade privada 9. não fazer lume 10. ser afável com os habitantes locais

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