Sexta-feira, 2 de Outubro de 2009

Aventura na Linha do Sabor

A Linha Ferroviária do Sabor que ligava a estação do Pocinho (Linha do Douro) a Duas Igrejas, foi construída de forma faseada e, o seu longo atraso na conclusão, ditou, por falta de verbas, que nunca chegasse a Miranda do Douro.

A Linha do Sabor possui a maior rampa ferroviária contínua em Portugal, sendo que nos 12 km que distam entre a estação do Pocinho e de Torre de Moncorvo que, se vencem em 280 metros de desnível, num traçado sinuoso de rara beleza, era necessário a meio do percurso realizar uma paragem técnica na denominada "estação da Grincha", para que as locomotivas a vapor pudessem recuperar a pressão e continuar a longa subida. De Torre de Moncorvo até Felgar a rampa continuava, vencendo-se em 13 km 260 metros de altitude, o que prefaz uma rampa contínua de 25 km, necessário para que os comboios subissem o Douro, contornassem a Serra do Reboredo, e pudessem entrar no planalto mirandês.

A abertura da Linha do Sabor foi realizada da seguinte forma:

Pocinho - Carviçais - 17 Setembro 1911

Carviçais - Lagoaça - 06 Julho 1927

Lagoaça - Mogadouro - 01 Junho 1930

Mogadouro - Duas Igrejas - 22 Maio 1938

Torre de Moncorvo foi de todas as quatro sedes de concelho que a linha atravessa, a única a ter estação no próprio povoado. Freixo de Espada a Cinta, Mogadouro e Miiranda do Douro tinham as respectivas estações longe do centro, e que em último caso condenou a longo prazo a linha ao declínio da sua procura. Acelerado pelo despovoamento que a emigração ditou na segunda metade do século XX, o desinvestimento na via férrea teve o seu início. O material traccionado a vapor durou até ao seu encerramento, tanto para os comboios de passageiros, como de mercadorias e mistos. Para os passageiros surgiu ainda uma pequeníssima automotora fruto de um projecto nacional, que tinha a carroçaria de autocarro e era impulsionada por um motor a gasolina. O material anacrónico começou a ser substituído gradualmente por circulações rodoviárias, deixando nos últimos anos de exploração ferroviária apenas uma circulação de comboios em cada sentido, que fizesse integralmente os 105 km do Pocinho a Duas Igrejas, e duas que cumprissem apenas o Troço Pocinho - Mogadouro. 

A 1 de Agosto de 1988 estava tudo acabado na Linha do Sabor.

 

A Grande Rota que se pretende realizar entre 30 de Setembro e 02 de Outubro de 2009 é da seguinte forma:

 

Duas Igrejas - Mogadouro - 32,8 km

Mogadouro - Freixo de Espada a Cinta - 30,3 km

Freixo de Espada a Cinta - Torre de Moncorvo - 30 km

 

 

publicado por vagabundos às 08:36
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Quinta-feira, 1 de Outubro de 2009

Aventura na Linha do Sabor I

A linha do Sabor começava no Pocinho (linha do Douro) e terminava em Duas Igrejas - Miranda do Douro, com uma distância de 105,4 Kms. No entanto, optamos por realizar a caminhada no sentido contrário, pelo que daremos indicação dos quilómetros originais e os adaptados ao trajecto de facto realizado (mais informações no post: introdução à aventura na linha do sabor)

 

O plano foi cumprido á risca. Às 4h30 o Paulo e o Hélder estavam a sair de Gaia. Depois de uma viagem sem sobressaltos e de uma passagem rápida pela padaria da Joaninha, em Mirandela, encontraram-se com a Cláudia e o Nuno no Mogadouro, onde eles já tinham pernoitado. Por motivos profissionais, o Luís e o Mário não puderam estar presentes, sendo que o objectivo passava pela sua reunião ao restante grupo no dia seguinte.

 

Depois da habitual dança dos carros, em que o do Nuno ficou no Mogadouro, local onde terminaria a etapa deste primeiro dia, dirigiram-se todos a Duas Igrejas, para dar início ao percurso, o que aconteceu uns minutos antes das 9h. Durante esta viagem, decorrida em amena cavaqueira, o Nuno pediu ao Hélder para guardar a chave do seu carro. A famosa chave que se perdeu na aventura do ano anterior!

 

Duas Igrejas - Km 105,4 / 0

Chegados à estação de Duas Igrejas, iniciamos os preparativos para iniciar a caminhada. Comer um bocado de broa da Joaninha, beber um iogurte, tira isto e mete aquilo na mochila, devo ou não levar este acessório… enfim, o normal. Esta deveria ser uma estação lindíssima. Ainda hoje o é. Pena que esteja em mau estado de conservação. Acho que nós portugueses, temos pouco orgulho no que é nosso. E aqui, está um exemplo claro disso mesmo. Não seria de ter orgulho numa construção destas e não deveríamos tentar preserva-la? Esta estação, mantém ainda a traça original, com o ser reservatório, local de cargas e plataforma de embarque. 

   

  
     

 

 

Após darmos as primeiras passadas, apercebemo-nos logo de que o trajecto estava muito difícil de “ler”. Encontravam-se, aqui e ali, pequenos vestígios da antiga linha. Um ou outro monte de pedras, um ou outro parafuso, uma ou outra trave de madeira. Mas tirando isso, tornava-se inclusive difícil, perceber por onde haviam passado os carris. 

 

 
 
Assim fomos avançando, com períodos a alternarem a evidência clara de que alinha havia estado ali, com outros em que a situação não era tão clara, e em que tínhamos de avançar e recuar para procurar o trajecto, deitando-nos muitas vezes a adivinhar.

 

À semelhança no que aconteceu em edições anteriores, muitas das vezes tivemos que nos manter na margem da linha, pois a vegetação era tanta, que era impossível percorrer o traçado original.

 

Fonte da Aldeia - Km 99,7 / 5,7

Como podemos ver pelas fotos, aqui a destruição é significativa, não restando mais que um pobre esqueleto já bastante debilitado. O aspecto da paisagem não variava muito, sendo que alternava zonas um bocado inóspitas, com outras que atravessavam campos de cultivo. Por seu lado, a cavaqueira entre os vagabundos ia mudando constantemente de tema. É engraçada, a maneira como mantemos ao longo de quilómetros e quilómetros, a conversa tão fluida, sobre a mais variada quantidade de assuntos.

 

 

 

Nesta parte do percurso, encontramos duas coisas inéditas até então: uma cancela que parece ter sido patrocinada pela Citroën e o primeiro vestígio de carris desta linha!

 

 

  

 

Sendim - Km 94,0 / 11,4

À semelhança da estação de Duas Igrejas, a de Sendim deve ter sido lindíssima noutros tempos. Está neste momento bastante degradada e isolada pelas silvas.

 

 

 

O aspecto da paisagem e as dificuldades do percurso não oscilaram muito nesta parte do percurso.

 

Urrós - Km 88,3 / 17,1

Esta estação tinha e tem, um depósito de água que impressiona pelo seu tamanho. A estação está de um dos lados, completamente vedada pelas silvas. Por sinal, o mais bonito. Do outro, deixa a nu o estado de degradação que já atingiu. O local de armazenagem de mercadorias ainda deve ser usado ao dia de hoje, provavelmente por particulares, pois está ainda em bom estado de conservação.

 

   
  

 

Como já eram 13h30 e as barriguitas já se iam queixando, decidimos que este seria o local ideal para almoçar. Graças também às excelentes condições acústicas, o Nuno e o Paulo decidiram presentear os restantes vagabundos, com um belo recital que apelidamos de “Música de Cantaria”.

 

Cantaria é a arte ou ofício de canteiro. O nome tem a sua origem no trabalho com pedras para construção dos cantos das casas. Assim, a cantaria consiste em trabalhar pedras utilizadas nas construções antigas, lavradas e esquadrejadas segundo as técnicas da estereotomia. Esta técnica era um pouco ruidosa, algo que criou um paralelo com este tipo de música J

 

Curiosamente, após esta estação, o caminho melhorou muito. Não só se tornou mais fácil de identificar o trajecto, como mesmo a sua transitabilidade se tornou muito mais fluida.

 

 

 

Foi neste trajecto que constatamos a existência de vida extra-terrestre. É mesmo verdade. Sabemos que esta é provavelmente uma revelação que vai chocar o mundo, mas tem que vir à luz do dia. Vejam e foto que se segue e comprovem-no pessoalmente.

 

   

 

Algures entre Urrós e a Variz, deveríamos ter encontrado a estação ou apeadeiro de Sanhoane. Soa estranho, não soa? Mas é mesmo assim! Mas o que é certo, é que não vislumbramos nem vestígios de tal local. Das três uma, ou foi deitado a baixo, ou estava completamente camuflado pelas silvas ou era um monte de pedras para o qual olhamos e por acaso questionamo-nos: o que seria isto? A resposta mais provável? Era provavelmente a estação dos caminhos de ferro com o nome mais estranho de todó Portugal.

 

Sanhoane - Km 81,5 / 23,9

 

Variz - Km 78,0 / 27,4

A tarde ia passando de forma agradável. O percurso era por esta altura amigável e apenas a quantidade de quilómetros percorridos começava a causar alguma moça. Por isso, chegados a esta estação, decidimos lanchar e descansar um pouco as pernas e os pés.

 

Esta estação ainda dispõe de todos os seus elementos base e parte dela ainda está com um aspecto muito razoável. Para acedermos mesmo à estação, tivemos que atravessar um terreno que mais parecia particular. Mas em boa verdade, o que de facto se passou, foi que o terreno público da estação foi “transformado” em particular!

 

 

 

Daqui em diante, o caminho foi feito pelo meio dos campos. Alguns cultivados, outros a monte. Foi neste troço que nos cruzamos com um pastor que levava o seu rebanho de volta a casa. Foi uma conversa engraçada, onde pudemos trocar experiências de realidades de vida muito diferentes. Teve a sua piada quando ele nos perguntou se não tínhamos medo de andar por ali, ao que lhe respondemos que medo, por vezes, temos de andar nas nossas cidades. Afinal de contas, que mal nos pode acontecer no meio da natureza?

 

 

 

Mogadouro - Km 72,6 / 32,8

Chegamos por fim à estação que concluía a aventura deste dia. Eram 18h30 quando chegamos. Estávamos entretidos a ver o interior da estação, ou do que resta dela, quando o Nuno, já em tom jocoso, pergunta ao Hélder pela chave do carro. Ao que este, e lembrando-se de que aquela chave se tinha perdido na caminhada do ano anterior, lhe respondeu com toda a calma do mundo: “Sem stress, está bem guardada. Está no meu carro”

 

 

Mal acabou de completar a frase, apercebeu-se do ridículo da situação. É que o seu carro, tinha ficado 33 quilómetros afastado, em Duas Igrejas! Conclusão, estávamos no Mogadouro, tínhamos um carro à porta da estação, cuja chave estava dentro de um outro carro a 33 quilómetros de distância! Que Tansos. Estivemos a rir-nos da situação uns bons 5 minutos sem parar.

 

  
 

 

Bom, caminhada que é caminhada, não pode dar-se ao luxo de não envolver um táxi. Desta forma, lá fomos a uma casa em frente à estação, solicitar que nos chamassem um táxi que nos levasse a Duas Igrejas.

 

Quem nos calhou em sorte, foi o Sr. Ernesto Fernandes, taxista há largos anos. A sua especialidade? Transporte de bruxos. É verdade, durante todo o trajecto contou-nos imensas histórias de situações da sua vida profissional em que transportou videntes e outros artistas do género.

 

Já na “posse” dos dois carros, lá nos dirigimos à corporação dos Bombeiros Voluntários do Mogadouro, a quem gostaríamos de agradecer, por nos terem permitido tomar um belo banho retemperador. Depois saímos para jantar, no famoso restaurante A Lareira, onde trinchamos uma bela posta. À saída, recebemos um telefonema que nos deixou com enorme satisfação, pois foi a confirmação de que o Mário e o Luís se juntariam ao restante grupo na manhã seguinte. Posto isto, fomos descansar, pois o dia seguinte haveria de ser duro.

publicado por vagabundos às 08:35
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